“Mas um deles tem que ficar de fora? Não dá para ir os dois?”
Você certamente ouviu este comentário em novembro, quando Portugal e Suécia disputavam uma vaga na repescagem europeia para a Copa do Mundo de 2014. O questionamento era a respeito do duelo entre Cristiano Ronaldo e Zlatan Ibrahimovic, que tiraria do Mundial um dos craques. Melhor para o português.
Mas a história poderia ser diferente. Ibrahimovic poderia estar na Copa do Mundo, poderia ter se classificado sem nem passar pela repescagem… Se tivesse sido aceito pela Bósnia.
A história não é nova, mas vale a pena ser contada. Remonta a 1998, na verdade.
Zlatan Ibrahimovic é filho de um imigrante bósnio (Sefik Ibrahimovic) com uma imigrante croata (Jurka Gravic). Os dois chegaram no final da década de 70 à Suécia, onde se conheceram e se casaram. O filho deles, Zlatan, nasceu em 3 de outubro de 1981 e ganhou o primeiro par de chuteiras aos seis anos. Na adolescência, entrou para as categorias de base do Malmö, clube de sua cidade-natal. Em 1999, aos 17 anos, profissionalizou-se.
Zlatan IBRAHIMOVIC – Malmö FF 2001 pic.twitter.com/z3cXZklE7M
— Old School Panini (@OldSchoolPanini) May 7, 2014
Antes disso, no final de 1998, o pai de Ibrahimovic enviou uma carta à Federação de Futebol de Bósnia e Herzegovina (N/FSBiH), alegando que Zlatan era um jogador com potencial e que poderia levá-lo a Sarajevo para testes.
Munib Usanovic, então secretário-geral da N/FSBiH, consultou fontes que conheciam Zlatan Ibrahimovic e descartou o sueco, alegando ter “talentos melhores” à disposição. Usanovic afirmou ainda ter desconfiado a proposta, já que “não queria pagar uma passagem de avião para um garoto desconhecido que pretendia passar as férias na Bósnia de graça”.
Embora Sefik jamais tenha recebido uma resposta oficial da N/FSBiH, Zlatan foi inicialmente recusado. A entidade parece ter se arrependido, convidando-o em 2000 para disputar um torneio Sub-21, mas recebeu uma negativa do próprio jogador, que alegou que só jogaria pela seleção principal da Bósnia.
Àquela altura, Zlatan Ibrahimovic já havia tomado sua decisão. Em janeiro de 2001, foi chamado para defender a seleção principal da Suécia em um torneio regional – na ocasião, os suecos foram representados apenas por jogadores que atuavam no próprio país. No mesmo ano, foi contratado pelo Ajax. Em 2002, disputou sua primeira Copa do Mundo.
Em 2000, Ibrahimovic esnobou o Arsenal
A história na Inglaterra foi contada em sua autobiografia, Eu Sou Zlatan Ibrahimovic. Quando ainda jogava pelo Malmö, Ibrahimovic foi convidado pelo técnico do Arsenal, Arsene Wenger, para realizar testes no clube. No entanto, em conversa com o diretor esportivo do Malmo, Hasse Borg, decidiu não realizar o teste.
“Fui para o centro de treinamentos do Arsenal, perto de St. Albans (distrito de Londres). Eu vi Patrick Vieira, Thierry Henry e Dennis Bergkamp no gramado. O mais incrível é que eu iria encontrar Arsene Wenger. Me senti uma criança quando fui para seu escritório”, disse Ibrahiovic, que perdeu a paciência ao ser longamente observado em silêncio pelo técnico.
“‘Você pode fazer um teste conosco’, ele me disse. ‘Você pode fazer um teste.’ Não importa o quanto eu gostaria de ter me controlado, essas palavras me chatearam. ‘Me dê um par de chuteiras, eu vou fazer seu teste agora mesmo’, eu disse. Então (Hasse) Borg me interrompeu e disse: ‘pare, pare, você não vai fazer teste nenhum’. Eu entendi o que ele queria dizer – ou você (Wenger) estava interessado, ou não estava.”
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