De um lado, astros como Carlos Alberto Torres, Beckenbauer, Romerito e Chinaglia. De outro, desconhecidos como Miguel Banana, Tauris, Orange e Pesado. Pode parecer inusitado, mas esse confronto realmente aconteceu. Foi em 9 de março de 1980, quando o americano Cosmos veio a Manaus disputar um amistoso contra o amazonense Fast Clube. O confronto terminou 0 a 0 e foi o recorde de público do estádio Vivaldo Lima, o Vivaldão, com 56.950 pagantes. “Tinham pessoas nas marquises e penduradas em todos os espaços”, explica o cineasta Moacyr Massulo.
O jovem diretor de 26 anos pesquisou o inusitado confronto e está concluindo o documentário de curta-metragem Cosmos. “O amistoso foi importante porque tornou o Fast e o futebol amazonense mais conhecido no Brasil e até no exterior”. Massulo conversou com o Última Divisão e revelou algumas histórias sobre o histórico amistoso.
Última Divisão: Como você soube da passagem do Cosmos por Manaus?
Moacyr Massulo: Em 2010, minha mãe fez uma viagem e voltou com uma revista que tinha uma matéria sobre o jogo. Ela me entregou a revista e disse que esteve nesse jogo. Comecei a ler e me interessei muito pela história. Achei muito inusitado isso ter acontecido e ser pouco comentado.
UD: Como surgiu a ideia de fazer o documentário?
MM: Na hora que soube do jogo já tive a certeza que aquela história precisava ser contada. É um marco na memória do futebol amazonense. Desde então comecei a pesquisar sobre o jogo e conhecer pessoas envolvidas.
UD: Quais foram as principais dificuldades na realização?
MM: Até agora, encontrar material (imagens e vídeos) sobre o jogo. Nem o empresário e organizador do evento (Joaquim Alencar) manteve algum registro. É difícil preservarem esses registros durante tanto tempo.
UD: Qual importância esse amistoso teve para o Fast e para o futebol amazonense na época?
MM: O amistoso foi importante porque tornou o Fast e o futebol amazonense mais conhecido no Brasil e até no exterior. Porém, ele registrou um público que nunca mais se repetiu no Amazonas. Esse recorde de público foi algo inusitado e que ficou marcado na história do futebol do estado.
UD: Quais histórias inusitadas você descobriu realizando pesquisas para o longa?
MM: Tem muitas histórias. A maioria relacionada ao fato da capacidade do estádio. Pessoas que estavam lá dizem que havia muito mais do que era permitido. Pessoas na marquise, em pé, amontoadas em todos os espaços. Houve até um corre-corre devido aos boatos de que a marquise estava desabando. Com isso, algumas pessoas se feriram. Um famoso juiz de direito estava lá com os filhos e foi embora antes do fim do primeiro tempo, com o braço fraturado devido o empurra-empurra. Mesmo assim, ele não soltou a mãos dos filhos e a multidão o empurrou.
UD: No filme, você procura abordar a realidade do futebol amazonense hoje?
MM: Sim. Isso é uma coisa que me motivou muito também. Conversar com as pessoas que viveram este momento e com especialistas no esporte sobre o que Manaus precisa fazer para voltar a ter grandes públicos nos estádios.
UD: Cosmos é um curta-metragem. Você pretende aumenta-lo para um longa?
MM: Seria um sonho. Por enquanto não tenho verba para isso. Estou organizando todo o material para ter uma ideia do tempo de duração do filme.
UD: Você possui um outro projeto sobre futebol abordando o estádio Nacional. Como está sendo a realização?
MM: É outro curta-metragem, esse é de ficção. É uma reflexão sobre o fato de Manaus ter um estádio de Copa do Mundo. O título é Paixão Nacional, que é o futebol, a paixão do brasileiro e do amazonense também, mesmo sem ter times de destaque no estado. Não é sobre o time Nacional de Manaus. As filmagens vão acontecer entre junho e julho deste ano.
UD: Pesquisas apontam que torcedores amazonenses preferem torcer para os times do Sul aos locais. Na sua opinião, por quê isso acontece?
MM: Isso é verdade. Minha família toda torce para o Flamengo. A maioria dos meus amigos são flamenguistas, vascaínos, corintianos, são-paulinos e palmeirenses. Há décadas o futebol amazonense não ganha destaque nacional. Os times não empolgam e no estádio não tem público. No Amazonas as pessoas preferem assistir futebol pela TV e torcer por um time do Sul ou Sudeste.
UD: Você acredita que ainda existe muito preconceito da mídia contra o futebol da região Norte e do Amazonas?
MM: Não acredito que seja preconceito. Acredito que os times daqui realmente não estão conseguindo se organizar e formar boas equipes, com isso, não alcançam sucesso nas competições nacionais e por isso não tem destaque da mídia.
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