Há pouco mais de uma década, em 2001, a Copa da Uefa teve um de seus campeões mais peculiares: o Liverpool. O time inglês fez uma temporada digna de nota, conquistando também a Copa da Inglaterra e a Copa da Liga Inglesa. O torneio, por sua vez, contou pela primeira vez com um time de San Marino (o Folgore Falciano) e foi decidido por um gol de ouro contra – fato jamais repetido. Porém, é provável que o que tenha tornado especial esta edição da hoje Liga Europa foi o fato de o pequeno Alavés ter chegado à final, com boas chances de título.
Fundado em 1912, o Deportivo Alavés figurou por anos nas divisões de acesso do futebol espanhol, fazendo eventuais aparições pela elite nas décadas de 30 e 50. Em meio à má situação das posteriores décadas, o clube de Mendizorroza só encontrou alívio ao se associar a um grupo de empresários. Na década de 90, o clube basco conheceu então uma série inédita de sucessos: foi tricampeão da Segunda Divisão B (a rigor, a terceira divisão) e conquistou a Segunda División na temporada 1997/1998. No topo, foi 16º da temporada 1998/1999 e chegou a um impressionante sexto lugar na temporada 1999/2000, garantindo uma vaga na Copa da Uefa da temporada seguinte.
Na competição europeia, reforçado por nomes como Iván Alonso e Ivan Tomic, o Alavés não fez feio e começou a escrever a história: passou por Gaziantepspor (4 a 3 no placar agregado) na primeira fase, Lillestrom (5 a 3) na segunda fase e Rosenborg (4 a 2) na terceira fase. Nas oitavas de final, contra a Inter de Milão, o sonho parecia perto do fim, mas a equipe do técnico José Manuel Esnal surpreendeu: depois de empatar na Espanha por 3 a 3, foi ao Estádio Giuseppe Meazza e venceu por 2 a 0, com gols de Jordi Cruyff e Ivan Tomic.
Nas quartas de final, o Alavés passou por um confronto curioso, eliminando o Rayo Vallecano em dois jogos (3 a 0 no País Basco, 1 a 2 na volta a Madri). Nas semifinais, nova surpresa: diante do Kaiserslautern, vitórias maiúsculas, por 5 a 1 na Espanha e 4 a 1 na Alemanha. De pouco em pouco, o Pink Team (referência ao uniforme cor de rosa utilizado ao longo do torneio) chegava à credenciado ao título.
A final aconteceu em 16 de maio de 2001, no Westfalenstadion, em Dortmund. De um lado, o estrelado Liverpool do técnico Gérard Houlier entrou em campo com Westerveld; Babbel, Hyypia, Henchoz e Carragher; Hamann, Gerrard, McAllister e Murphy; Heskey e Owen; do outro, o aguerrido Alavés, com Herrera; Contra, Karmona, Téllez, Eggen e Geli; Tomic, Desio, Cruyff e Astudillo; Javi Moreno. O árbitro era o francês Gilles Veissiére.
Em campo, os ingleses não demoraram a mostrar favoritismo. Markus Babbel abriu o placar com uma cabeçada aos 4min do primeiro tempo, e Steven Gerrard aproveitou o passe de Michael Owen aos 16min para ampliar. Sentindo a pressão, o técnico José Manuel Esnal sacou o zagueiro Dan Eggen e colocou Iván Alonso para reforçar o ataque. Aos 27min, o espanhol ganhou a dividida por cima com Babbel e diminuiu o placar. Porém, aos 41min, Owen foi derrubado na área: Gary McAllister cobrou e fez 3 a 1.
Parecia tudo sacramentado, mas um segundo tempo magistral dos espanhóis mudou os ares do jogo. Javi Moreno marcou duas vezes, em cabeçada aos 3min e em falta aos 6min, e empatou o jogo. Aos 28min, Robbie Fowler acertou chute no canto e recolocou os Reds em vantagem; porém, aos 44min, o Alavés mostrou que ainda estava vivo, e empatou a partida com uma cabeçada de Jordi Cruyff em cobrança de escanteio. Com 4 a 4 na empolgante decisão, o campeão só seria conhecido na prorrogação.
O primeiro tempo passou em branco, mas o Liverpool enfim chegou à vitória a três minutos das cobranças de pênaltis. Após falta cometida por Antonio Karmona sobre Vladimir Smicer (o defensor basco recebeu o segundo amarelo e foi expulso), Gary McAllister levantou a bola na área; Delfi Geli tentou desviar e mandou contra as próprias redes, tirando a chance de título do Alavés e dando a Copa da Uefa para o time britânico – o primeiro título de um time inglês desde a tragédia do Estádio de Heysel.
A mina de ouro
Depois desse apogeu, o Alavés voltou a conviver com as vacas magras. No fim da temporada 2002/2003, na qual os bascos foram rebaixados, o ucraniano Dmitry Piterman comprou 51% das ações do clube e se tornou proprietário dos vitorianos. Piterman apostou em contratações de peso para recolocar o clube na elite espanhol (destaque para o goleiro argentino Bonano e para o atacante brasileiro Nenê), com sucesso. Na volta, porém, a fraca campanha na temporada 2005/2006 motivou protestos da torcida contra o magnata.
Em 2006, já com o clube de volta à segunda divisão, Piterman então começa o rodízio de treinadores que marcou o Alavés na temporada: tira Chuchi Cos (seu homem de confiança) para coloca-lo na diretoria do time, e o substitui por Fabri González. Depois, vieram Mario Luna e Quique Yague. A má gestão do ucraniano fez com que ele fosse substituído por Fernando Ortiz de Zárate, que encontra Mendizorroza em grave crise econômica. Desta forma, os albiazuis sofrem uma intervenção judicial, entrando na chamada Lei Concursal.
Com contratações limitadas e negociação forçada de atletas, o Alavés abriu a temporada 2007/2008 na segunda divisão, e só saiu dela com vida graças a vitórias históricas sobre Real Sociedad e Celta de Vigo nas últimas rodadas. Porém, na temporada 2008/2009, o Alavés não teve a mesma sorte, e caiu para a Segunda Divisão B. Desde então, o time bate na trave para voltar à Segunda Divisão, graças aos investimentos de Josean Querejeta (dono de um bem sucedido clube local de basquete) e de seu homem de confiança, Avelino Fernandez de Quincoces.
Fontes e imagens: Wikipedia (pôster), Notícias de Álava e Europa en Juego.
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