Antes mesmo do decreto da ONU (Organização das Nações Unidas) em 1948 que criava o Estado de Israel como conhecemos hoje, o esporte bretão já ocorria na Terra Santa.
Marcada por mudanças de confederação, graves casos de racismo e intolerância religiosa, o futebol israelense também se notabiliza por feitos heroicos dentro de campo.
Por isso, vale conhecer os vários lados da modalidade no país.
A seleção de vários continentes
É fato que a AFC (Confederação Asiática de Futebol) teve, como um de seus formadores, a organização israelense para o esporte. Mas isso não impediu que esses fossem retirados da confederação no ano de 1977, em função do atrito gerado com os vizinhos árabes, insatisfeitos com a própria existência do país.
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Isso não impediu, anteriormente, que Israel sediasse uma Copa da Ásia em 1964, vencendo o título de forma invicta, além de participar da Copa do Mundo de 1970, no México, onde enfrentou Uruguai, Suécia e Itália na fase de grupos – não venceu nenhuma partida, mas arrancou dois empates, um deles contra os italianos.

Israel disputou as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1982 pela Europa, mas foi candidata às vagas da Oceania para os Mundiais de 1986 e 1990. Foi quando, em 1991, foi admitida de forma oficial na Uefa.
A base de sua seleção é de equipes locais, e um dos seus maiores destaques é o meia-atacante Manor Solomon, formado no modesto Maccabi Petah Tikva, mas que se transferiu em 2019 para o Shaktar Donestk da Ucrânia. Convocado para a seleção israelense desde 2018, tornou-se a grande esperança de gols e de consistência do futebol dos azuis e brancos.
Em 2022, a seleção israelense começou o ano na posição 78 do Ranking da Fifa (distante do 15º lugar alcançado em 2008), e disputa a Liga B da Liga das Nações da Uefa.
As potências locais
A Israeli Premier League, principal competição do país é composta por 14 times, e teve sua primeira edição no ano de 1931/1932, vencida pela equipe da Polícia Britânica. Vale ressaltar que o que hoje conhecemos por Israel/Palestina era um protetorado britânico.
Sua última grande reforma foi no ano de 2008 e seus três maiores campeões são:
Maccabi Tel-Aviv (23 conquistas)
O time mais campeão de Israel ostenta as cores azul e amarela. Foi campeão da Liga dos Campeões da Ásia em duas oportunidades (1968/1969 e 1970/1971), e classificado para a fase de grupos da Liga dos Campeões da Uefa na temporada 2004/2005, com a ingrata missão de enfrentar Bayern de Munique, Ajax e Juventus. Acumulou 4 pontos, com uma vitória contra os holandeses e um empate em casa com os bianconeri.
Dois jogadores brasileiros marcaram história nos auriazuis do centro econômico de Israel: o meia Bruno Reis (com passagens por Santos, Fluminense e Vasco da Gama), e o também meio-campista Eduardo Marques (ex-Santos, Santo André, Guarani e Sport, dentre outros). A dupla atuou na campanha da Liga dos Campeões de 2004/2005.
Em 2016, o time passou a contar com o goleiro Daniel Tenenbaum, que foi formado pelo Flamengo, mas possui dupla cidadania. O Flamengo, aliás, tem boas memórias contra o Maccabi Tel-Aviv, mas no basquete. No ano de 2014, o rubro-negro venceu os auri-azuis no Mundial masculino da modalidade.
Hapoel Tel-Aviv (14 conquistas)
O time vermelho e branco de Tel-Aviv – que não deve ser confundido com o Apoel do Chipre – faz rivalidade com o Maccabi Tel-Aviv e já venceu a Liga dos Campeões da Ásia por uma oportunidade (1967). Assim como o rival, participou da fase de grupos da Liga dos Campeões da Uefa, sendo o terceiro clube a fazê-lo no país.
Aconteceu na temporada de 2010/2011, quando confrontou Lyon, Benfica e Schalke 04. Arrancou cinco pontos do duro grupo, sendo três deles com uma vitória contra os vermelhos de Lisboa, apesar de ter sido igualmente eliminado em último na chave como o Maccabi.
Em 2022, a equipe conta com dois brasileiros no plantel: o mineiro Farley Rosa (formado no Cruzeiro e Sporting, com passagem longa pelo futebol cipriota e grego) e o maranhense Lúcio Maranhão (atuou nos tradicionais CRB e Fortaleza, dentre outros, chegou ao Hapoel Tel-Aviv em 2021).
Maccabi Haifa (13 títulos)
Os verdes da cidade de Haifa foram os pioneiros do futebol de Israel a participar da fase de grupos da Liga dos Campeões da Uefa (temporada 2002/2003). Por razões de segurança, tiveram de mandar seus jogos no Chipre, onde enfrentaram Olympiakos, Manchester United e Bayer Leverkusen.
As vitórias contra os Red Devils e contra os também vermelhos da Grécia, ambas por 3 a 0, não foram suficientes para classificá-los para a segunda fase de grupos, mas os permitiu disputar a Copa da Uefa, na qual foram eliminados pelos gregos do AEK Athens com um sonoro agregado de 8 a 1.
O clube ainda disputou a Liga dos Campeões 2009/2010, encarando o ingrato grupo com Bayern de Munique, Juventus e Bordeaux, e perderam todas as partidas. O Bordeaux foi o líder desse grupo e deixou a Juventus distante de disputar o título naquela temporada.
O jogador brasileiro que passou pelo time do norte de Israel foi o capixaba Wescley Pina, cria da base do Vasco da Gama, que teve breve passagem em solo israelense e logo voltou para o Brasil, com passagens por Corinthians, Náutico, dentre outros.
Intolerância religiosa
Contudo, a história mais infeliz do futebol de Israel é a do Beitar Jerusalém. O clube aurinegro teve sua história marcada pela contratação de dois jogadores que colocariam o clube na história de forma negativa: Dzhabrail Kadiyev e Zaur Sadayev oriundos da Chechênia, que é uma região autônoma do sul da Rússia.
A referida contratação teve grande repercussão – não pela qualidade dos jogadores, mas em função de suas crenças. Ambos são muçulmanos, e a fanática torcida do Beitar, composta por uma maioria de judeus ortodoxos, nada ficou satisfeita com os reforços.
Houve um boicote por parte da maior organizada, que atingiu seu ápice quando Sadayev marcou o único gol em sua passagem pela Terra Santa. Na ocasião, os torcedores abandonaram o estádio. A reação negativa não foi majoritária, mas reforçou a postura daqueles que diziam que eram do clube “mais racista do mundo”.
Os dois jogadores passaram pouco tempo no futebol israelense e tomaram seus próprios rumos. Sadayev atuou, logo após o ocorrido, no futebol polonês. Kadiyev, por sua vez, retornou à Rússia. O caso foi retratado no documentário Forever Pure.
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