No Última Divisão, nós adoramos a quarta divisão do Campeonato Paulista. Em 2012, por exemplo, escrevemos aqui a respeito do Taquaritinga, dono da pior campanha da Segundona – e, consequentemente, do estado – naquele ano. Mas foi impossível não voltar ao assunto em 2015, diante do desempenho do Esporte Clube União Suzano, o ECUS.
Coube ao time da Grande São Paulo a ‘honraria’ de realizar a pior campanha da Segunda Divisão do Campeonato Paulista. Diferente do que fez o Taquaritinga três anos antes, o ECUS até venceu um de seus jogos; mesmo assim, o que se viu em campo na equipe suzanense foi digno de registro, e não por um bom motivo.
Em 18 jogos, o time conquistou uma vitória e dois empates, somando 15 derrotas. O desempenho é inferior até mesmo ao de equipe bastante frágeis no torneio, como Bandeirante (uma vitória e seis empates), Barcelona (duas vitórias e dois empates) e Osvaldo Cruz (três vitórias e três empates). Na última rodada, o clube de Suzano perdeu fora de casa por um placar absurdo e desumano: 14 a 2 diante do Mauaense.
Mas como se chega a um vexame tão grande? Vasculhando no noticiário, encontramos os seguintes sintomas: em apenas 18 jogos, o ECUS sofreu de troca de treinadores, atraso de salários, falta de estrutura, elenco reduzido e time sem compromisso. Resultado: derrota por WO, escalação irregular de jogadores, atuação com menos de 11 atletas e algumas goleadas, sempre contra.
O caminho para o 14 a 2
Ainda em janeiro, o time iniciava a preparação para disputa da Segunda Divisão sem treinador e com elenco reduzido – o que não era nenhum absurdo, uma vez que a competição só começaria três meses depois. No entanto, o anúncio do novo técnico – que seria feito no final do mesmo mês – foi sendo adiado, adiado e adiado, até que o preparador físico Cícero Silva (foto) foi efetivado no cargo. Em março.
Mas tudo bem. Com Cícero no comando, o time do ECUS venceu dois amistosos de pré-temporada, contra equipes de base de São Caetano e São Bento, e deixou o treinador animado. Mas aí veio a estreia pela quarta divisão paulista, e o time de Suzano acabou derrotado em casa pelo Manthiqueira por 2 a 0. Cícero viu falhas na equipe, mas mirava a reação para as partidas seguintes.
Só que a evolução não veio. Nas rodadas seguintes, derrotas fora de casa para Taboão da Serra (2 a 1, com gol de Viola) e Diadema (2 a 1). Naquele momento, o ECUS já era o lanterna do Grupo 3 da competição, e Cícero Silva via mais problemas na equipe. O time conseguiu um ponto em casa na quarta rodada, empatando em 1 a 1 com o Guarulhos, mas acordou do sonho de reação na rodada seguinte ao levar 4 a 1 do Jabaquara em Santos.
Foi a gota d’água para Cícero Silva. Sem vitórias em cinco jogos, o técnico criticou a falta de comprometimento de determinados atletas e pediu demissão. Mas a saída do treinador não mudou muita coisa no Leão do Jardim Colorado: jogando em casa, o time sofreu mais duas derrotas nos jogos seguintes, contra São Bernardo (2 a 0, sob comando do gerente de futebol Douglas Hernandes) e contra Portuguesa Santista (4 a 0, já sob o comando de Vânio Ribeiro).
Naquele momento, os próprios jogadores já denunciavam a falta de compromisso dos companheiros. A chance de reação poderia ter vindo na oitava rodada, no Clássico dos Gêmeos contra o União Suzano; no entanto, com um pênalti perdido para cada lado, o jogo terminou em 0 a 0. Mesmo assim, o ponto foi celebrado pelo ECUS, que teve dois atletas expulsos na partida.
Se o desempenho parece fruto de má sorte até aqui, começa a dar outros indícios justamente a partir do 0 a 0 contra o USAC. Motivo: com a expulsão do goleiro Bruno Vinícius, o técnico Vânio Ribeiro teria que escalar um de seus dois reservas, Bruno Raffael ou Bruno; no entanto, o primeiro se afastou voluntariamente da equipe, enquanto o segundo se recuperava de contusão. No encerramento do primeiro turno da primeira fase, o ECUS foi derrotado pelo Mauaense por 2 a 1 no Suzanão.
Àquela altura, os problemas extracampo – como salários atrasados e até falta de alimentação – eram escancarados pelo próprio elenco. No returno da chave, em meio à debandada de jogadores, mais três derrotas: 6 a 1 para o Manthiqueira, 5 a 0 para o Taboão da Serra (com dois gols de Viola) e 3 a 1 para o Diadema. Nos três jogos, o zagueiro Lucas atuou como goleiro (foto), substituindo Bruno Vinícius.
Foi somente na 13ª rodada que o ECUS conquistou sua primeira (e única) vitória no ano: fora de casa, venceu o Guarulhos por 1 a 0 com gol de Lucas, o zagueiro-goleiro-que-voltou-a-jogar-na-zaga. Mesmo assim, Vânio Ribeiro deixou o time após o jogo seguinte, quando os susanenses foram derrotados pelo Jabaquara por 2 a 0.
A partir daí, a participação do ECUS na Segundona de SP foi ainda mais deprimente. Derrota por 2 a 1 para o São Bernardo, WO frente à Portuguesa Santista e uma goleada por 6 a 0 no clássico contra o União Suzano. Nesta partida, o ECUS entrou em campo sem técnico nem reservas, com quatro atletas irregulares; no segundo tempo, apenas nove jogadores atuaram. “Eu estava resolvendo problemas e só fiquei sabendo no segundo tempo do que estava acontecendo”, justificou o presidente Sérgio Chagas.
Mas nem mesmo o mais pessimista torcedor do ECUS estava preparado para o que se viu na última rodada. Jogando em Mauá com apenas oito atletas, o time comandado pelo ex-jogador Axel foi impiedosamente goleado pelo Mauaense por 14 a 2. Detalhe: o Mauaense não tinha mais chances de classificação. Foi a maior vitória da história do clube de Mauá.
Acabava ali, de maneira arrasadora, a temporada 2015 do ECUS em campo. Fora dele, o time ainda vai a julgamento pela escalação irregular de atletas na derrota por 6 a 0 para o USAC. “O que podemos tirar de lição dessa situação é que temos que esquecer tudo que passou. Temos que refazer toda nossa estratégia”, disse Sérgio Chagas, antes mesmo da derrota histórica por 14 a 2.
Talvez o buraco seja mais embaixo, Sérgio. Talvez.
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