O Enyimba é o time mais vencedor do futebol nigeriano no século XXI. Fundado em 1976, o clube passou duas décadas como uma força intermediária da Nigéria; entretanto, desde o fim da década de 90, conquistou sete vezes a Premier League local (2001, 2002, 2003, 2005, 2007, 2010 e 2015), quatro vezes a Copa da Nigéria (2005, 2009, 2013 e 2014) e duas vezes a Liga dos Campeões da África (2003 e 2004).
Este período de bonança começou em 1999, graças à eleição do empresário Orji Uzor Kalu ao governo da província de Abia. Desde seu início de governo, Kalu determinou o aumento de investimentos nos clubes de Abia (em especial, no Enyimba). Os resultados logo vieram.
Mas não foi esta mudança de panorama que colocou o Enyimba no mapa do futebol mundial no início do século XXI – quer dizer, até foi, mas indiretamente. E nem é de Orji Uzor Kalu que este texto fala. Na verdade, este texto relembra o dia em que o Enyimba esteve no centro do mundo do futebol.
Ronaldo
Ronaldo deixou o Barcelona no final da temporada 1996/1997 para reforçar a Inter de Milão. Em suas primeiras temporadas, impressionou pela explosão muscular e pela capacidade de fazer gols. Tudo parecia bem.
Entretanto, veio o dia 21 de novembro de 1999. Durante uma partida da Inter de Milão contra o Lecce, o brasileiro se lesionou com gravidade. Exames apontariam a ruptura de um tendão no joelho. Operado, tentou voltar aos gramados em 12 de abril de 2000, em partida contra a Lazio pela Copa da Itália. Resultado: sete minutos em campo, nova lesão e afastamento por período indeterminado.
Naquele momento, a carreira de Ronaldo – então com 23 anos – corria o risco de terminar prematuramente. Fora de toda a temporada 2000/2001, passou por nova cirurgia e por várias sessões de fisioterapia para retornar aos campos. O que conseguiu a um ano da Copa do Mundo de 2002.
E foi aí que os caminhos de Enyimba e Ronaldo se cruzaram.
Domingo, 19 de agosto de 2001
Na Itália, era dia de Ferragosto, tradicional feriado católico celebrado no meio de agosto. Mas, em Milão, era o dia do retorno de Ronaldo aos gramados. Era o Ronaldo Day.
Naquele domingo, Ronaldo entraria de novo em campo, em uma partida beneficente que ele mesmo ajudou a organizar. Os fundos arrecadados iriam para programas da Organização das Nações Unidas dedicados a crianças na África, na América do Sul e na Ásia.
Mas, também naquele dia, pairava a dúvida. Será que, depois de 21 meses no estaleiro, Ronaldo voltará a atuar em um jogo completo? Será que o joelho estaria recuperado? E se a operação não desses os resultados esperados? Será que ele voltaria a ser um grande jogador?
O adversário para a reestreia de Ronaldo seria a seleção do Senegal, mas a dificuldade na liberação dos jogadores (que atuavam majoritariamente no futebol francês) acabou dando a chance – meio inesperada – ao Enyimba. Ainda em pré-temporada, os então campeões nigerianos teriam a chance de atuar contra Ronaldo, Vieri, Ventola e outros astros. E não vacilaram.
Em campo, deu a lógica: a Inter de Milão venceu por 7 a 0, com quatro gols de Vieri. Ronaldo jogou por apenas 35 minutos e deixou o campo antes do intervalo, mas teve tempo de dar trabalho. Primeiro, arriscou-se em duas oportunidades que obrigaram o goleiro Dele Ayianugba a trabalhar; depois cruzou para Vieri abri o placar de cabeça aos 19 minutos.
Mas o melhor estava por vir: aos 23 minutos, Ronaldo chutou da entrada da área e fez 2 a 0. Daí em diante, movimentou-se com segurança até os 35 minutos da etapa inicial, quando deixou o campo ovacionado pela torcida – 35 mil torcedores haviam comprado ingressos para ir ao Estádio Giuseppe Meazza naquele dia.
Aos 43 minutos, Vieri marcou mais um e levou a Inter em vantagem para o intervalo. No segundo tempo, mais quatro gols dos italianos (inclusive um de Adriano) selaram o placar. Ronaldo havia jogado pouco, mas podia sonhar com a volta por cima. Disputar a Copa do Mundo de 2002 com a seleção brasileira não era mais impossível.
“Não estou pensando em datas, não faço projeções. Quando eu puder jogar 90 minutos, o Luiz Felipe (Scolari) vai me analisar e me convocar quando julgar apropriado”, declarou na ocasião, em entrevista coletiva. “Meu joelho se comportou bem. Não senti dor e pude até fazer alguns movimentos bruscos”, completou.
Da roda de imprensa, saiu correndo para entrar ao vivo no Domingão do Faustão. Daí em diante, terminou de escrever seu nome na história: conquistou a Copa do Mundo de 2002, atuou por Real Madrid, Milan e Corinthians, marcou gols e aposentou-se em 2011, lutando para manter a forma física – desta vez, não contra as lesões no joelho, mas contra a balança.
FICHA TÉCNICA
INTER DE MILÃO 7 X 0 ENYIMBA
Data: 21 de agosto de 2001, domingo
Local: Estádio Giuseppe Meazza, em Milão (Itália)
Árbitro: Salvatore Racalbuto
Cartões amarelos: Nenhum
Gols: Vieri (19min/1ºT), Ronaldo (23min/1ºT), Vieri (42min/1ºT), Vieri (11min/2ºT), Vieri (15min/2ºT), Adriano (25min/2ºT) e Ventola (39min/2ºT).
INTER DE MILÃO: Toldo (Fontana); Vivas (Zanetti), Blanc (Simic), Materazzi e Georgatos; Okan (Conceição), Seedorf (Dalmat), Di Biagio (Gresko) e Emre; Ronaldo (Ventola) e Vieri (Adriano)
Técnico: Héctor Cuper
ENYIMBA: Ayianugba; Ukpabia, Kinsgley, Chibueze e Abacha; Anyaele, Alegbe, Udi e Isa; Nwogu e Nwanna
Técnico: Godwin Koko Uwua
E o Enyimba?
Como dissemos antes, o Enyimba também decolou desde aquele amistoso. Com vários títulos, o clube passou a dominar o futebol nigeriano. Hoje, a equipe já é a maior vencedora da liga local, à frente de Rangers (seis títulos), Shooting Stars (cinco), Heartland (cinco) e Kano Pillars (quatro).
Na Liga dos Campeões Africanos, chegou às semifinais em 2008 e 2011 – perdeu do Al-Ahly na primeira e do Wydad Casablanca na segunda. Por enquanto, o terceiro título continental – e a chance de disputar o Mundial de Clubes – ainda é uma meta a ser cumprida no estado de Abia.
Mais fotos de Inter de Milão 7 x 0 Enyimba, aqui.
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