Cheio de formalidades e clichês, os sorteios das Copas do Mundo só divertem quando geram algo inesperado. No Mundial da França, em 1998, a surpresa aconteceu com doses de tensão. Afinal, duas nações inimigas no contexto político mundial, Irã e Estados Unidos, foram colocadas em rota de colisão.
A montagem dos grupos aconteceu em 4 de dezembro de 1997, há exatamente 16 anos, e trouxe algumas novidades na cerimônia, como ter sido realizado pela primeira vez dentro de um estádio (Vélodrome, em Marselha), antecedido por um amistoso entre uma seleção de europeus e o resto do mundo (Ronaldo Fenômeno se destacou pelo “resto” na vitória por 5 a 2).
Na hora do sorteio, além do grupo da morte (formado por Nigéria, Paraguai, Espanha e Bulgária), o destaque foi a confirmação do confronto entre Irã e EUA, que se enfrentariam em 21 de junho de 1998. Data definida, veio o medo: haveria provocações na partida? O jogo iria desandar para a violência?
Afinal, a rivalidade histórica era antiga: em 1979, depois de uma revolução, o xá Reza Phalevi foi tirado do poder no Irã e abrigou-se nos Estados Unidos. Por este fato, os norte-americanos começaram a ser chamados de “O Grande Satã”, problema diplomático que teve repercussão em outros momentos históricos, como no apoio americano ao Iraque, que entrou em guerra contra o Irã na década de 80.
Porém, as seleções nacionais não pareciam ligar para o contexto histórico e aproveitaram o momento para dar o exemplo em campo. Antes mesmo da bola rolar, os iranianos ofereceram flores e posaram para uma foto histórica com os americanos, onde aparecem abraçados e misturados, em um belo pedido de paz ao mundo.
Quando a bola rolou, o Irã venceu por 2 a 1 em um jogo sem violência. Apenas uma jogada gerou tensão: quando os jogadores dos dois times disputaram uma bola em cima da linha, em lance que culminou no gol americano. A animosidade, porém, foi logo contida e não ofuscou o bonito gesto dos atletas no início do encontro.
Na próxima sexta-feira (6), acontecerá na Bahia um novo sorteio de Copa do Mundo, mas dessa vez Irã e Estados Unidos não poderão ficar no mesmo grupo, já que estão juntos no pote 3. Dessa vez os holofotes estarão voltados para a formação de um novo grupo da morte, que tem grandes chances de acontecer novamente.
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